Dando continuidade às nossas reflexões de como os exercícios quaresmais da oração, jejum e caridade nos fazem crescer nas virtudes teologais, hoje vamos falar de como o exercício espiritual da Oração nos faz crescer na virtude da Fé. A Oração é a expressão máxima de nossa Fé. É quando buscamos estabelecer nosso ENCONTRO PESSOAL com Deus. Mas, não posso pensar na oração como algo que partisse somente de mim, pois quando o homem se põe em oração a iniciativa é de Deus que deseja ser amigo do homem. “Estamos em oração quando nosso coração se dirige a Deus. Quando uma pessoa, entra numa relação viva com Deus” ➜ YOUCAT – 469. Em uma palavra: uma relação de AMIZADE. Uma relação marcada pela confiança e pela proximidade. Não se pode pretender ser por muito tempo amigo de alguém, quando lhe somos distantes, sobretudo distantes do coração, quando não lhe falamos ou ouvimos. Quando olhamos para Moisés, por exemplo, “aprendemos que orar significa falar com Deus” ➜ YOUCAT – 472, ou seja, ser amigo de Deus. “Deus falava como Moisés face a face, como alguém que fala com seu AMIGO” (Ex 33, 11).
O QUE É A VIRTUDE DA FÉ?
Primeiro é importante saber que uma virtude é sempre a disposição habitual e firme para fazer o bem. Permite à pessoa não só praticar atos bons, mas dar o melhor de si. Com todas as suas forças sensíveis e espirituais, a pessoa virtuosa tende ao bem, procura-o e escolhe-o na prática. “Ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável, tudo o que há de louvável, honroso, virtuoso ou de qualquer modo mereça louvor” (Fl 4,8) (cf. Catecismo da Igreja Católica n° 1803). A fé é a virtude teologal pela qual cremos em Deus e em tudo o que nos disse e revelou, e que a Santa Igreja nos propõe para crer, porque Ele é a própria verdade. Pela fé, “o homem livremente se entrega todo a Deus.” (CIC 1814). CRER é a atitude característica do homem perante Deus. Ela implica numa adesão da inteligência em reconhecer a Deus em todas as suas manifestações de amor e suas exigências para com o seu povo. A atitude de Abraão é o modelo da verdadeira fé que salva (Gn 3,6): ele gastou a sua vida, confiando na Palavra de Deus (Gn 12,1-2; 13,14-18; Ez 33,23-24; Sl 44,19-21; Rm 4,1s; Hb 11,8-12).
Fé em latim vem do verbo CREDERE, (Pronuncia-se crédere), “crer”, que significa “dar crédito ou acreditar, não ter a menor sombra de dúvida, de desconfiança”. ACREDITAR é uma palavra bem interessante porque como vemos, temos sua raiz também na palavra CRER – CREDERE que é o mesmo que CORDARE, dar o coração, COR-DARE. Ou seja, crer é confiar o coração, dar de si ao outro ou ao outro. Então ter fé em Deus, é lhe dar todo o crédito, é lhe DAR O CORAÇÃO!
PARA SE APROFUNDAR MAIS NA PALAVRA DE DEUS:
No Novo Testamento, CRER é:
– prestar fé à Palavra de Deus em Cristo (At 24,14 Lc 24,25-27);
– é obedecer a Deus (Hb 11,1s; Rm 1,5; 10,16s; Rm 15,18; 16,19; 16,26; 2Cor 5,5s);
– é confiar nele (Mc 11,22-24; At 3,16; 1Cor 13,2);
– é converter-se, aceitando o Evangelho (1Tg 1,8-9; Rm 10,17; 2Cor 5,18s; At 3,12-16).
– A Igreja é a depositária da fé: Mt 16,16-19; 18,17s; Mt 28,20; Mc 16,15; Lc 22,31s; Jo 21,15-17; At 1,24s; At 15,7s; At 20,28; 1Cor 1,10; 1Tm 6,20s; 2Tm 4,2-5; Tt 3,10s; 2Jo 1,10.
A VIDA DE ORAÇÃO SACIA A SEDE DA NOSSA ALMA
Na virtude teologal da fé, nós dizemos um sim ao Pai na obediência. Lhe damos um crédito, nos abandonamos como filhos em plena confiança a Ele que é um Pai Amigo. E é na oração que alimentamos essa confiança filial. Por isso, durante a Quaresma a Igreja convoca os fiéis a se exercitarem intensamente na oração, a fim de que toda a sua vida se transforme em oração. Na vida de oração crescemos na virtude da fé e no relacionamento com Deus. Portanto quanto mais eu rezar e rezar melhor, crescerei no conhecimento verdadeiro de Deus, e aumentará consequentemente em mim, o Dom da fé.
“Se conhecesses o dom de Deus!» (Jo 4, 10). A maravilha da oração revela-se precisamente, à beira dos poços aonde vamos buscar a nossa água: aí é que Cristo vem ao encontro de todo o ser humano; Ele antecipa-Se a procurar-nos e é Ele que nos pede de beber. Jesus tem sede, e o seu pedido brota das profundezas de Deus que nos deseja. A oração, saibamos ou não, é o ENCONTRO da sede de Deus com a nossa. Deus tem sede de que nós tenhamos sede d’Ele” (CIC 2560).
A EVANGELIZAÇÃO NASCE DA ORAÇÃO, DO NOSSO ENCONTRO PESSOAL COM CRISTO:
No início do Evangelho de João, vemos como André, depois de ter encontrado Jesus, se apressa em conduzir a Ele seu irmão Simão (cf. 1,40-42). A evangelização sempre parte do encontro com o Senhor Jesus: quem se aproximou d’Ele e experimentou o seu amor, quer logo partilhar a beleza desse encontro e a alegria que nasce dessa amizade. Quanto mais conhecemos a Cristo, tanto mais queremos anunciá-lo. Quanto mais falamos com Ele, tanto mais queremos falar d’Ele. Quanto mais somos conquistados por Ele, tanto mais desejamos levar outras pessoas para Ele. (…) A evangelização autêntica nasce sempre da oração e é sustentada por esta: para poder falar de Deus, devemos primeiro falar com Deus. E, na oração, confiamos ao Senhor as pessoas às quais somos enviados, suplicando-Lhe que toque o seu coração; pedimos ao Espírito Santo que nos torne seus instrumentos para a salvação dessas pessoas; pedimos a Cristo que coloque as palavras nos nossos lábios e faça de nós sinais do seu amor (Papa Bento XVI).
Por isso, através da oração, comunhão com Deus, além de crescermos na virtude da fé, também crescemos no relacionamento com as pessoas. Eu não posso dizer que amo a Deus se eu não amo o meu irmão, a oração é o diálogo com Deus mais também me lança para o meu irmão. “O compromisso missionário é uma dimensão essencial da fé: não se crê verdadeiramente, se não se evangeliza” (Papa Bento XVI), como veremos no estudo sobre como o exercício quaresmal da ESMOLA nos faz crescer na Virtude Teologal da Caridade.