Como a Esmola nos faz crescer na Virtude Teologal da Caridade?
Se o JEJUM nos faz crescer na virtude da ESPERANÇA, convidando-nos a sair de nós mesmos, a ORAÇÃO marca essa saída, rumo ao nosso relacionamento com Deus, fazendo-nos crescer dessa forma na virtude da FÉ. Percebemos aqui um crescimento vertical de duas virtudes por meio de dois exercícios quaresmais. Mas como a cruz é o sinal que nos identifica como seguidores de Cristo, ela nos recorda também a dimensão horizontal do nosso seguimento, ou seja, o amor ao meu próximo. De maneira que a ESMOLA se tornar portanto, este exercício que nos faz crescer na virtude da CARIDADE. “A fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê. E sem a fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11, 1.6). Mas “a fé opera por meio da caridade (Gl 5,6). A nossa fé já é amizade com Deus e nos vincula ao próximo; mas, sem a caridade – que é amizade e por si mesma intercâmbio de bens e desejos de comunicar o bem supremo, nossa fé permaneceria infértil, estéril. Por isso, não sem razão, “a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma. Alguém dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.” (Tg 2, 17-18).
O QUE DIZ O CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA?
No Batismo, Deus infunde na alma, sem nenhum mérito nosso, as virtudes, que são disposições habituais e firmes para fazer o bem. As virtudes infusas são teologais e morais. As teologais têm como objeto a Deus; as morais têm como objeto os bons atos humanos. As teologais são três: fé, esperança e caridade. Com relação à virtude teologal da caridade, ou seja, do amor, deve-se ter em conta que o amor a Deus e o amor ao próximo são uma mesma e única coisa, de modo que um depende do outro; por isto, tanto mais poderemos amar ao próximo quanto mais amemos a Deus; e, por sua vez, tanto mais amaremos a Deus quanto mais de verdade amemos ao próximo.
§ 1822 A CARIDADE é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas, por si mesmo, e a nosso próximo como a nós mesmos, por amor de Deus.
§ 1823 Jesus fez da caridade o novo mandamento. Amando os seus “até o fim” (Jo 13,1), manifesta o amor do Pai que Ele recebe. Amando-se uns aos outros, os discípulos imitam o amor de Jesus que eles também recebem. Por isso diz Jesus: “Assim como o Pai me amou, também eu vos amei. Permanecei em meu amor”(Jo 15,9). E ainda: “Este é o meu preceito: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”(Jo 15,12).
Ainda nos ensina o Catecismo que a caridade tem como frutos a alegria, a paz e a misericórdia, exige a beneficência e a correção fraterna; é benevolência; suscita a reciprocidade; é desinteressada e liberal; é amizade e comunhão: A finalidade de todas as nossas obras é o amor. Este é o fim, é para alcançá-lo que corremos, é para ele que corremos; uma vez chegados, é nele que repousaremos.” (CIC 1827-1829)
O QUE DIZ AS SAGRADAS ESCRITURAS?
Nas Sagradas Escrituras, vemos que apóstolo S. Paulo traçou um quadro incomparável da caridade:
“A caridade é paciente, a caridade é prestativa, não é invejosa, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (l Cor 13,4-7).
Diz ainda o apóstolo: “Se não tivesse a caridade, nada seria…”. E tudo o que é privilégio, serviço e mesmo virtude… “Se não tivesse a caridade, isso nada me adiantaria”. A caridade superior a todas as virtudes. E a primeira das virtudes teologais “Permanecem fé, esperança, caridade, estas três coisas. A maior delas, porém, é a caridade” (1 Cor 13,13).
Para se aprofundar mais na PALAVRA DE DEUS:
Ser revestidos das 3 virtudes Teologais: I Ts 5, 6-8
A Caridade é o vínculo da Perfeição: Cl 3, 14
A Caridade cobre uma multidão de pecados: I Pd 4, 10
Sobre a verdadeira Caridade: I Cor 13, 1-13
Aquele que não ama, não conhece a Deus, porque Deus é AMOR: I Jo 4, 7-12
O QUE DIZ O MAGISTÉRIO DA IGREJA CATÓLICA?
O Papa Bento XVI nos ensina em sua Encíclica Caritas in Veritate:
A caridade é amor recebido e dado; é graça (cháris). A sua nascente é o amor fontal do Pai pelo Filho no Espírito Santo. É amor que, pelo o Filho, desce sobre nós. É amor criador, pelo qual existimos; amor redentor, pelo qual somos recriados. Amor revelado e vivido por Cristo (cf.Jo13,1), é ‘derramado em nossos corações pelo Espírito Santo’ (Rm 5,5). Destinatários do amor de Deus, os homens são constituídos sujeitos de caridade, são chamados a se tornarem eles mesmos instrumentos da graça, para difundir a caridade de Deus e tecer redes de caridade.
Interessante é que na Roma antiga e nos territórios conquistados, a língua latina tinha várias palavras correspondentes à palavra “amor”, como a compreendemos hoje. Por exemplo, Caridade, etimologicamente que provém do latim cáritas, carìtas, caritátis, charitas, significa amor; porque tem sua raiz na palavra carus, caro, de alto valor, digno de apreço, de amor. Não há verbo correspondente. Por isso, Caritas é usado em latim nas traduções da Bíblia cristã para significar “amor caritativo”. No entanto não é encontrada na literatura clássica pagã romana. É sinônimo e variante de beneficência e esmola. Seu contrário seria descaridade, desamor, desumanidade, egoísmo, malevolência. É portanto, a virtude teologal que conduz ao amor a Deus e ao amor por nosso semelhante; designa o ato pelo qual se beneficia o próximo, especialmente os pobres e os desprotegidos ou donativo, esmola, benefício ou ajuda que se dá aos pobres; designa ainda a disposição favorável em relação a alguém em situação de inferioridade, seja física, moral, social, espiritual; designa também compaixão, benevolência, piedade.
O anúncio de Cristo não passa somente através das palavras, mas deve envolver toda a vida e traduzir-se em gestos de amor. A ação de evangelizar nasce do amor que Cristo infundiu em nós; por isso, o nosso amor deve conformar-se sempre mais ao d’Ele. Como o bom Samaritano, devemos manter-nos solidários com quem encontramos, sabendo escutar, compreender e ajudar, para conduzir, quem procura a verdade e o sentido da vida, à casa de Deus que é a Igreja, onde há esperança e salvação (cf. Lc 10,29-37). Queridos amigos, nunca esqueçais que o primeiro ato de amor que podeis fazer ao próximo é partilhar a fonte da nossa esperança: quem não dá Deus, dá muito pouco. (Papa Bento XVI)